Si escribo o leo o dibujo o pinto,
después me siento tan atrasado
en lo que adeudo a la eternidad,
que comienzo a empujar para adelante el tiempo
y lo empujo, lo empujo brutalmente
como empuja un rezagado,
hasta que cansado me juzgo satisfecho.
(¡Tan idénticas son
la fatiga y la satisfacción!)
En cambio, si voy por ahí
soy tan inteligente en discernir todo lo que no está en mí,
comprendo tan bien lo que no me ofrece respeto,
me siento tan jefe de lo que está fuera de mí,
doy consejos tan bíblicos a los afligidos de una aflicción que no es mía,
que, sinceramente, no se qué es mejor:
si estar solo en casa y girar la manivela de la vida,
si ir por ahí y ser el Rey de todo lo que no es mío.
Lisboa, Noviembre 1939
José de Almada Negreiros (Trindade, Portugal, 1893-Lisboa, 1970), Poemas, Assírio & Alvim, Lisboa, 2001
Versión de E.A.
Ref.:
Letras Libres
El País
Museu Calouste Gulbenkian
O Homen, Produto de si Próprio
Imagen: José de Almada Negreiros, Autorretrato, 1927
MOMENTO DE POESIA
Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto,
logo me sinto tão atrasado
no que devo à eternidade,
que começo a empurrar pra diante o tempo
e empurro-o, empurro-o à bruta
como empurra um atrasado,
até que cansado me julgo satisfeito.
(Tão gémeos são
a fadiga e a satisfação!)
Em troca, se vou por aí
sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo,
compreendo tão bem o que não me diz respeito,
sinto-me tão chefe do que está fora de mim,
dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não é minha,
que, sincesaramente, não sei qual é melhor:
se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida,
se ir por aí a ser o Rei de tudo o que não é meu.
Lisboa, Novembro 1939
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